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35 anos de AVELÃZ Y AVESTRUZ

Em junho, há 35 anos atrás estreava na Bahia um novo grupo de teatro – o AVELÃZ Y AVESTRUZ – num momento em que o teatro baiano passava por uma renovação. Logo depois outros grupos surgiram, e a cena baiana nunca mais foi a mesma.
Publico aqui um texto de Carlos Wilson para divulgação da peça Macbeth, produzida em 1982. O grupo deu uma parada em 1983, depois de montar Simun (Strindberg) e Fala comigo doce como a chuva (Williams). Voltou em 1989, com Lulu (Wedwkind), e hoje faz parte da história do teatro baiano.

jorge santori, maria eugênia milet, luciene tavares (de costas), vilma florentina, marcus antonio e marcio meirelles (de pé)

AVELÃZ Y AVESTRUZ – PEQUENO HISTÓRICO ATÉ 1982
Carlos Wilson Andrade

O grupo Avelãz y Avestruz começou suas atividades em março de 1976 com os ensaios de RAPUNZEL. O espetáculo era uma adaptação para adultos do conto infantil dos irmãos Grimm, uma tentativa de transpor para o universo adulto urbano os personagens da mitologia infantil. RAPUNZEL estreou em 17 de junho do mesmo ano.

A linguagem cênica já deixava claro o caminho a ser trilhado pelo grupo: forte pelo apelo visual e gestual, muita importância dada ao trabalho vocal e corporal; a música; a coreografia; a maquiagem; o cenário e o figurino, usados como elementos significativos e a utilização de ação simultânea.

Em 77 o grupo monta a RAINHA, de Ana Franco, um elo­gio ao poder num baile de máscaras, onde o público partici­pava como convidado. A peça foi criada a partir do absurdo cotidiano baseada na velha rainha vermelha de Lewis Carroll.

Em 78 o Avelãz monta FAUSTO, de Goethe. O espetáculo era uma fusão de duas linguagens aparentemente distintas: a ópera e o circo; fiel, porém, ao espírito da obra, sem invecionismos que distanciassem a montagem da idéia, nem “moder­nizassem” o texto, contando-se visualmente a obra e compensando a redução do texto com o gesto e o signo.

A montagem de FAUSTO recebeu o troféu Martin Gonçal­ves – Rede Globo/TV Aratu, concedido aos melhores do teatro baiano de 78 por: melhor direção, melhor ator coadjuvante, melhor figurino, melhor atriz coadjuvante, tendo sido ainda indicada para o mesmo prêmio nas categorias: melhor espetáculo, ator e cenário.

Em 79 o grupo passou a aprofundar mais ainda o estu­do do teatro, com exercícios corporais e vocais, aumentando-os de 4 para 8 horas, e, monta ALICE, FANTASIA DRAMÁTICA, ba­seado no original de Lewis Carroll.

A montagem partia da idéia de que “Alice in wonderland” narra o sonho de uma criança onde ela encara as relações fami­liares. Personagens vitorianos se moviam num único cenário: a sala de visitas de uma casa do século XIX, onde Alice vivia sua aventura de crescer e vencer a opressão familiar.

A linguagem corporal, com muito de Grotowsky, junto a uma reconstituição de dècor e figurino realista, deram ao espetáulo o tom onírico requerido pela obra.

ALICE estrelou em Salvador, seguindo para Vit6ria, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Rio de Janeiro, São Paulo, onde suscitou polêmicas diversas. ALICE recebeu os seguintes troféus Martin Gonçalves em 79: melhor espetáculo, melhor direção, melhor atriz, melhor ator coadjuvante, melhor atriz coadjuvante, tendo sido indicada para melhor cenário e melhor figurino.

No ano seguinte o grupo montou BAAL, partindo da obra teórico dramática e poética de Brecht e da análise feita por Jung dos arquétipos, principalmente o do her6i. Conseguiu cri­ar um espetáculo onde estabelecia-se uma síntese de Brecht/Ar­taud, com uma estética basicamente expressionista. Depois de ter se apresentado em Salvador, BAAL foi convidado pela Fundação Teatro Guaíra. para. apresentar-se em Curi­tiba, seguindo depois para o Cacilda Becker no Rio de Janeiro, onde o trabalho do grupo foi reconhecido como “muito além do passível de decodificação por qualquer espectador de QI médio” (O Globo, 22/08/80). O troféu Martin Gonçalves de melhor ator foi concedido a Fernando Fulco por Baal.

Ainda no mesmo ano de 1980, como parte do estudo da obra de Brecht para a montagem de BAAL, o grupo fez uma experi­ência com “Horácios e Curiácios”, segundo os moldes brechtia­nos de teatro. Com este espetáculo-experiência, o grupo limi­tou-se a apresen1ár em ensaio público, na Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA.

Em 1981, junto com o Grupo Experimental de Dança da UFBA, dirigido por Lia Robatto, apresentou SALOMÉ com a parti­cipação do Quarteto de Cordas da Bahia, membros da Orquestra Sinfônica da UFBA e do Grupo Anticália. Baseado nos textos de Oscar Wilde, Mallarmé, de Jung, da Bíblia e de alquímicos, SALOMÉ era tratado como uma ópera, o texto era cantado em sua quase totalidade como uma peça atonal. O espetáculo trágico ganhava e emprestava uma dimensão mítica às estruturas arquitetônicas do Convento de Santa Tereza, barroco do século XVII, onde foi encenado. Enquanto loco­movia-se através dos corredores, o público era cercado pelo espetáculo a que assistia.

SALOMÉ recebeu destacados elogios, o de Lina Wertmuller, por exemplo: “Com SALOMÉ, Lia Robatto e Márcio Meirelles fazem um tipo de teatro de vanguarda como certos grupos da Itália. Foi uma surpresa para mim defrontar-me com um grupo assim. Os atores são absolutamente incríveis.” (Jornal Movimento, 02 a 08/12/81).

Ainda em 81, baseado na obra de Strindberg: O PAI. O espetáculo se desenrolava como um jogo. Foi empres­tada muita importância à maneira de dizer o texto, sendo ela­borados para isto exercícios de interpretação realista. O su­cesso de público e crítica da montagem fizeram com que O PAI cumprisse três temporadas em Salvador, sendo indicada no tro­féu Martim Gonçalves para melhor cenário, melhor atriz, melhor ator coadjuvante

Entre os elogios à peça, o do crítico americano de teatro, Richard Gilman: Eu tive de reconhecer que o diretor é um jovem ousado e; inovador, considerado controvertido. O di­retor, cujo nome é Márcio Meirelles, demonstrou ser um exemplo de “Diretor de Teatro” que nos aparenta ser conciso (The Nation – 25 de julho a 12 de agosto de 1981).

Em 81 o Avelãz y Avestruz pela primeira vez monta um espetáculo infantil: RAPUNZEL, baseado no original dos Irmãos Grimm.
Opereta infantil dividida em cinco partes, o espetáculo era pontuado por música medieval e renascentista, executada ao vivo pelo Grupo Anticália.

A linguagem de circo e de pantomima, recursos usados pelos trovadores da Idade Média, com histriões representando seus cantares, linguagem dos jogos infantis, coloriam o espe­táculo.

RAPUNZEL ganhou três troféus Martim Gonçalves – conce­dido aos melhores do teatro infantil baiano: melhor direção, melhor atriz coadjuvante, melhor figurino, indicado para melhor espetáculo, ator, atriz, ator e atriz coadjuvante, melhor cená­rio.

Durante o Verão 1981/82, o Avelãz y Avestruz ensaiou “Imoralidades do Século XX”. Eram dramatizações com humor e pantomima, seguindo a linha de teatro de rua medieval dos trovadores, ampliada para uma proposta de espetáculo atual e mais anarquista. Ainda nesse verão o grupo, junto com a crítica de arte Matilde Matos, criou um centro cultural alternativo,”A FÁ­BRICA”, um espaço de formação, informação, consumo, e atualização da arte, através de oficinas, eventos, filmes, grupos de estudo, palestras, pesquisas e ouras atividades geradoras do intercâmbio cultural na cidade.

Em 82, paralelo à montagem de MACBETH, o grupo é con­tratado pelo Instituto Goethe para a encenação do texto “Alta Áustria”, do alemão Franz Kroetz.

E agora, e com MACBETH que o Avelãz y Avestruz se defronta em ser ou estar com Shakespeare. Nesse intuito, vá­rios ensaios estão sendo realizados no Castelo de Garcia D’Ávi1a, localizado a uma hora de Salvador, datado de 1551, tempo entre o desenrolar da história verídica e a criação de Shakespeare. O castelo é único exemplar existente no Brasil de morada feudal e servirá como palco da pré-estréia, ainda este mês.

MACBETH tem a direção de Márcio Meirelles, assim como toda a concepção artística/plástica: figurino, maquiagem e cenário; produção executiva: Eduardo Gomes; composição e dire­ção musical: Antonio Carlos Tavares; dramaturgia e trabalho de texto: Cleise Mendes; técnica de corpo e coreografia: Carla Leite e Bety Grebler; divulgação e contra-regragem: Wilson Andrade.
O elenco a constituído por: Fernando Fuldo (Macbeth), Célia Bandeira (Lady Macbeth), Eduardo Gomes (Banquo), Chica Carelli, Marilda Santana, Mary Weinstein (feiticeiras), Pola Ribeiro (Ducan), Carla Leite (Lady Macduff), Eugênia Millet (aparições). Os demais papéis masculinos serão revezados pelos atores: Afonso Cezar, André Torreta, Domingos André, Ely Brandão e José Araripe.

MACBETH estreará no Teatro Guaíra (Curitiba), nos dias 02 e 03 de outubro, seguindo: Teatro do Ipê (Porto Alegre), de 07 a 09 de outubro; de 14 a 15, Teatro Del Centro (Monte Vidéu); 16 a.17, Teatro Tabaris (Buenos Aires); 21 a 27, Teatro Castro Alves (Salvador). Em novembro: de 11 a 13, Teatro Ateneu (Ara­caju); de 18 a 20, Teatro Deodoro (Maceió); de 25 a 28, Teatro Santa Isabel (Recife), de 30 a 12 de dezembro, Teatro Munici­pal de Campina Grande (Campina Grande); de 03 a 05, Teatro Sa.g ta Rosa (João Pessoa); de 12 a 16, Teatro Alberto Maranhão (Natal); de 17 a 19, Teatro José de A1encar (Fortaleza). Em janei­ro: de 12 a 16, Teatro Nacional (Brasília); de 19 a 23, Teatro Galeria (Rio); de 26 a 30, Teatro de Cultura Artística (São Paulo). Em fevereiro: de 03 a 06, Palácio das Artes (Belo Horizon­te); de 10 a 13, Teatro Carlos Gomes: (Vitória).

Publicado em 30/04/2011 | nenhum comentário

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