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‘Espelho para cegos’ parte de metáforas para denunciar o vazio da sociedade contemporânea

 (Marcio Lima/Divulgação)

Fragmentos do cotidiano de uma cidade que passou por três invasões estão na peça ‘Espelho para cegos’, do romeno Matéi Visniec, que será apresentada de sexta a domingo, no Grande Teatro do Sesc Palladium. Primeiro, borboletas coloridas devoram quem anda rápido perto delas. Depois, caracóis saem de todas as partes, inclusive da boca, quando se fala. Houve também a chegada dos bichos-chuva, que destroem a substância das coisas, esvaziando tudo, inclusive o cérebro. A direção do espetáculo é do baiano Márcio Meirelles e o elenco é de dois grupos de Salvador: Teatro dos Novos e Universidade Livre de Teatro Vila Velha. O espetáculo integra a programação da oitava edição do Verão Arte Contemporânea (VAC).
“O que está no palco é o que vivemos: a cidade vazia, fechada em círculos, pessoas fugindo para outros lugares. Um sistema de forças em decomposição, que leva ao marasmo indolente e à permanência de tudo como está”, explica Márcio Meirelles, contando que o texto traz o que ele gostaria de dizer ao público. O diretor vê na peça desde temas ligados à angústia, ao silêncio e à solidão das pessoas como à sociedade que obriga a consumir tudo, histericamente. Tudo com interpretação realista, visando criar conexão entre o discurso metafórico e a plateia. “É assim que entramos nos sonhos, como se tudo fosse real”, justifica.

Márcio Meirelles tem 59 anos, é encenador, cenógrafo e figurinista. Como a atriz Jurema Machado era amiga da mãe dele, desde criança ouvia falar de teatro, assistia a ensaios e peças. Ter integrado grupo de teatro, na universidade, no início dos anos 1970, foi decisivo para certas convicções: “Entendi que teatro é arma de luta por causas até perdidas”, observa o criador. O diretor admira os trabalhos de José Celso Martinez. “Pelo sentido de urgência, caráter ritualístico, conexão com a polis. E pela virulência e vivacidade de tudo o que ele faz”, explica.

CRISE Para Meirelles, grande desafio é a crise gerada por momento em que qualquer um pode “representar a si mesmo” (com o celular, por exemplo) e ter grande público, o que levaria a desinteresse pelo teatro. “O teatro pode ser, de novo, urgente, necessário. Voltar a ser um lugar em que o público se veja, reveja e até se distraia. Pode voltar a ser o lugar do debate”, defende, elogiando o movimento Passe Livre pelo fato de ele colocar a sociedade para discutir. Meirelles acha positiva a multiplicação de estéticas (teatro instalação, literário, televisivo, tecno etc.) na cena contemporânea. “Mas qualidade é essencial”, observa.

Walter Sebastião para o Estado de Minas Cultura

Publicação:17/01/2014

http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2014/01/17/noticia_arte_e_livros,150565/nao-ve-quem-nao-quer.shtml

Publicado em 19/01/2014 | nenhum comentário

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