Finalização da temporada de “Por que Hécuba”

Quando escuto o primeiro sinal eu estou na produção com Iana Nascimento e Chica Carelli. A gente aproveita para conversar sobre coisas da vida, teatro, viagens, camarim, a chave do camarim, nervosismo e se tem público ou não. Isso tudo aquecendo a articulação, alongando o corpo, bebendo água e sempre buscando a concentração. Quando a gente escuta o segundo sinal, vamos para a escada. Ficamos concentrados por que já está muito perto de entrar em cena. Abrimos a porta que da ascesso a segunda galeria para escutar o texto inicial que Vinicius está lendo. Assim que acaba o texto, o sangue já está no olho, a barriga embrulhando e a adrenalina a mil por hora. É aí que escutamos o terceiro sinal e o juiz apita nego. E quando o juiz apita você tem que entrar, e uma vez no picadeiro com o público todo te olhando não tem para onde correr. Não tem mais volta irmão. É deixar a adrenalina tomar conta de todo seu corpo e respirar. E quando você mete o texto é tudo nosso. É tudo isso e mais um pouco que eu passo e vivo antes de entrar em cena. Eu gosto. É bom e quero sempre mais. É uma doença que não tem cura. “Por que Hécuba” é especial para mim. “Por que Hécuba” é a primeira montagem da Universidade LIVRE de Teatro Vila Velha. Nesse espetáculo eu não contraceno com todos da LIVRE. Eu jogo mais com Iana e Vado. Iana e Vado são pessoas ótimas para trabalhar. Escutam, querem fazer, gostam de ensaiar, adoram propor e isso é necessário no teatro. Ainda mais um teatro como o nosso. Nosso processo foi muito rápido. Acho que a gente ensaiou de verdade um mês e meio. E me recordo na sala Mário Gusmão dos nossos ensaios. Os três jogando, reagindo, se dirigindo também, dirigindo o colega, ajudando o colega que tem dificuldade. Tudo isso para que o espetáculo aconteça. Tudo isso por que o teatro é assim. Trabalhar com esses dois é lindo. Por Vado a gente batia o texto até depois da peça. Eu colocava os pés no Vila e ele jogava qualquer fala das nossas cenas. Era muito engraçado. Para Vado não tem tempo ruim. Por isso que você faz parte da linha de frente. No meu time Vado joga de titular. Um cara que não tem besteira. E tem um coração grande. Iana com seu jeito peculiar de ser, tambem me ajudou muito. Ianinha já tem outra forma de trabalhar. Ela tem seu tempo e aprendi a respeitar. Demora de ensaiar. Temos que ficar no pé. Mas, quando o couro comia é só alegria. A humildade reina em Ianinha. Tambem na sala Mário Gusmão, a gente ensaiando muito, batendo texto, volta cena e ela um dia pediu com aquela cara de cachorro na chuva que ela faz bem: “Tiago me ajuda”. Eu te ajudo amor meu, você me ajudou muito. Isso foi um pouco do nosso processo. Um porcesso lindo, mas difícil. Respirar teatro não é fácil. Viver não é fácil.  Espero que “Por que Hécuba” volte um dia a pisar no Vila Velha. Espero que Salvador escute os gritos de Hécuba. Espero ver Chica brincando com a gente sempre. O juiz apontou o meio de campo e a diversão acabou. Todos foram embora. Estou no ônibus indo para casa com a cabeça no vidro da janela cantando: “Hécuba, aqui estão as cinzas de seu filho”. Seguimos!!!

publicado no facebook em 23/01/2014

https://www.facebook.com/notes/universidade-livre-de-teatro-vila-velha/finaliza%C3%A7%C3%A3o-da-temporada-de-por-que-h%C3%A9cuba/641174362611006

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