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O CAMPO DE BATALHA É O LUGAR DO TEATRO

rodrigo dos santos e aldri anunciação - foto:

é desconcertante escrever sobre a montagem de O CAMPO DE BATALHA em meio a comoção mundial do je suis charlie criada pelo atentado contra a revista francesa q reiteradas vezes sem q a justiça tomasse conhecimento (ia escrever partido mas partido a justiça francesa tomou) publicou material ofensivo ao símbolo maior da religião/cultura de 10% da população daquele país

n posso deixar de refletir sobre o fato embora talvez qdo este texto chegar às mãos do espectador da peça já tenham acontecido tantas outras coisas no mundo q pareça anacrônico o q vou falar tal a velocidade c q o mundo anda a produzir fatos ideias reviravoltas estratégicas nessa dramaturgia alucinada da vida real transformada em espetáculo em reality show q faz c q o teatro pareça também anacrônico

mas devo falar e justificar a fala q teatro é assim a necessidade premente de falar de levantar questões de propor debates de n deixar por menos de emocionar e apertar a mente das pessoas por ofício por compromisso c a mudança operada dia a dia no mundo c a capacidade ainda de transformar q temos e cada vez mais abrimos mão em troca de comodidades

teatro é sair da zona de conforto e penetrar na aventura do pode ser e se for como será

nada justifica a violência do atentado como nada justifica a violência da resposta ao atentado nem a violência c q os ex colonizadores tratam as populações de ex colonizados residentes cuja alteridade é um valor do qual n querem se desfazer

nada justifica a violência mas muitas coisas a explicam

é em busca de explicação q aceito montar o texto de aldri

em busca de saber o q o mundo pode fazer de cabeças pensantes

qdo somos reduzidos “reduzidos”? a elas

para q servem cabeças pensantes num mundo manipulado num mundo montado por sistemas complexos de poder econômico religioso político cultural social midiático q se complementam e interpenetram de forma mtas vezes perversa e promíscua?

podemos intuir q servem para conduzir organizar refletir entender este mundo e seus sistemas mas servem tb p questionar e isso leva a q? a uma mudança? ou a compreensão do mecanismo permite uma aderência a ele? o q querem as cabeças pensantes? aperfeiçoar a humanidade em busca de paz desenvolvimento justiça felicidade para todos ou integrar-se ao sistema e tirar vantagem dele? manter valores e quais valores? manter a ordem mas q ordem?

os dois personagens da peça perplexos diante de uma guerra controlada por uma central de fomento entendem em tempos diferentes o q é e pq é feita uma guerra

economia economia horácio como diria hamlet

entendem e têm posições sobre isso essas posições equilibram e desequilibram a base q os sustenta

o debate a tomada de consciência e posição ameaça a base pq leva os personagens q o fazem ao estado de cabeças pensantes

e o q se faz c elas?

como frear o war business o i-guerra.com? dá pra frear a economia? Então transveste-se o negócio em ideologia transveste-se em patriotismo em valores do bem contra valores do mal em super heróis q destroem o inimigo em justiceiros q executam os culpados . culpados por serem de outras etnias de outras culturas c outros valores culpados por ocuparem nosso lugar o lugar construído por nossos ancestrais q destruíram o lugar dos ancestrais deles deixando-lhes pouco ou quase nada deixando-lhes a alternativa de viver ao lado na periferia c quase nada menos dignidade menos tolerância menos compaixão . mas ali ao lado . deixando-lhes quase nada mas sua cultura e seus valores q n aceitamos e por isso são culpados

enfrentamos tudo isso e mais uma rave alucinada e cotidiana promovida pelo sistema e seus patrocinadores . uma rave onde brilha quem é eleito pela mídia e  a estes é dado subir ao reino dos céus

a exigência de ser é a exigência do ter e estar em algum lugar equilibrado no alto por instantes enquanto n se é substituído por outro eleito para o mesmo lugar por desgaste de peças . um novo produto colocado no mercado e q tem q ser consumido rapidamente antes q sejam necessários reparos repuxos antes q seja necessário q a toxina botulínica deforme completamente o rosto idolatrado enquanto era natural

a sociedade do consumo do espetáculo q nos inunda de informações de tal forma q é impossível digerir todas e distinguir o q alimenta o q é fast food q mistura estado e mercado q nos leva a conclusões sem a capacidade e raciocinar pela sobrecarga de dados injetados como botox paralisante nas rugas da reflexão do pensamento da memória do tempo de olhar de inferir de juntar as peças do quebra cabeças

são alternativas dos soldados e da voz . sair ou dominar? escapar ileso ou bloquear a capacidade de sair?

vivo crio trabalho basicamente e basilarmente no teatro vila velha numa lógica de teatro de grupo de responsabilidade c a formação continuada de artistas pensamentos estéticas público

aceitar participar de um projeto q me tire do habitat q construí e me constrói é raro e qdo o faço é pq o projeto me mobiliza e para entrar em campo e defender o q ele se propõe a ser

desde a primeira leitura do texto de aldri sinto q nele há o q quero dizer q é possível sair do espaço plural do vila onde as relações palco e plateia são fisicamente repensadas todos os dias e partir p um palco de relação frontal e tentar afinar estilos diferentes de representação de artistas colaboradores c histórias diferentes e caminhos q só se cruzarão talvez uma vez – esta – equalizar estéticas e poéticas distintas num único discurso q dê ao público a possibilidade de questionar a si e ao mundo e às crenças e aos informes diários e às convicções consolidadas abrindo brechas no sistema q tvz o possam transformar

acredito ainda na possibilidade q o teatro tem de fazer isto

e acredito q O CAMPO DE BATALHA é o lugar onde o teatro deve estar

texto escrito para o programa da peça  . estréia no centro cultural banco do brasil . são paulo . sp . 30/01/2015

marcio meirelles

rio . 14 .01 .2015

 

Publicado em 15/01/2015 | nenhum comentário

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