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O Q É UM SHAKESPEARE PARA Q SE POSSA FAZER UM

jean pedro (horácio) e vinicius bustani (hamlet) . foto: marcio meirelles

texto do programa da  MÁQUINA SHAKESPEARE = HAMLET +HAMLETMACHINE . MACBETH

peças estreadas no teatro vila velha em janeiro de 2015

 

O Q É UM SHAKESPEARE PARA Q SE POSSA FAZER UM

 

n é difícil fazer shakespeare é só fazer shakespeare

isso parece apenas uma boa frase e é

uma verdade

o q n quer dizer q n seja trabalhoso

afinal o q é um shakespeare para q se possa fazer um

é política poesia ação aventura sexo filosofia reflexão debate prazer

é basicamente teatro o melhor teatro

a única maneira de se fazer cada uma de suas peças

se descobre em cada uma delas

nos versos na prosa no ritmo nas imagens na escolha do pulso certo para dizer qualquer fala

na música no movimento provocado pelo deslocamento do ar qdo cada palavra é dita

está na escolha do conjunto de metáforas e imagens q ele fez

p criar o efeito de difusão específico de cada uma

 

e essa difusão é a chave

 

portanto é fazer escolhas q portas abrir qdo aparentemente há tantas

quais deixar abertas só para se olhar e perceber a dimensão do edifício

em quais entrar quais manter fechadas quais entreabrir para dar a sensação

de q se pode escolher outras saídas

como conduzir o espectador pelo labirinto de frases

q nos levam dificilmente em linha reta para o cerne da ideia

para isso é preciso ter em conta q n existem personagens

mas pensamentos em ação

q todos aqueles seres

– do q conduz a trama q nem sempre é o personagem título ao mais pequeno q surge apenas em uma cena e nunca mais na peça e para sempre na memória –

são necessários e têm sua grandeza

como cada ser humano q encontramos na fila do banco e nunca mais

em seu grupo ele tinha 16 atores então pq compunha para tantas vozes

se elas n fossem absolutamente necessárias

descobrir a necessidade de cada um desses pensamentos q agem

num jogo montado pelo autor é o caminho

em suas tramas ele – o autor – age através dos movimentos e estratégias

de cada voz q ele cria e lança mão de todos os recursos à mão

para fazer um discurso q nos fale de nós

num aparente paradoxo quem existe é o autor agindo através de cada personagem

é preciso então q se descubra o q quer o autor

o q quis

o q disse a seus contemporâneos q de tão claro e bem dito chegou até nós

e continua a dizer

o paradoxo é q se trata de um autor de quem n se sabe nada com certeza

apenas existem seis assinaturas em documentos burocráticos

nenhum verso manuscrito

exceto as páginas do texto colaborativo sobre thomas more q talvez pela coincidência da caligrafia do manuscrito e a das assinaturas sejam essas páginas do texto do mesmo shakespeare q assinou os documentos e q talvez seja o shakespeare q escreveu as peças publicadas em seu nome pq guardam mtas semelhanças de estilo e forma c as cenas do manuscrito

 

esse shakespeare inventou a humanidade

ou a retratou melhor do q ninguém em sua totalidade

 

é o cara q inventou mais de 800 palavras de uma língua inglesa q estava sendo construída e consolidada que criou frases q repetimos mais de 400 anos depois sem saber da onde vem – apenas de hamlet temos SER OU N SER EIS A QUESTÃO . EXISTEM MAIS MISTÉRIOS ENTRE O CÉU E A TERRA DO Q SONHA NOSSA FILOSOFIA . FRAGILIDADE SEU NOME É MULHER . HÁ ALGO DE PODRE NO REINO DA DINAMARCA

 

para se pensar numa biografia para este nome

é preciso recorrer à biografia de todo seu mundo contemporâneo

e intuir a partir daí a sua história

é uma história coletiva

se os poetas e dramaturgos de sua época viviam assim e faziam isso então provavelmente se os habitantes de stratford upon avon nascidos mais ou menos na data em q está registrado o seu nascimento tinham tais hábitos e viveram tais fatos então pode ser q se os cidadãos de londres entre os séculos xvi e xvii sofriam e gozavam de tais vicissitudes limites pressões prazeres recursos então

SE TODOS ENTÃO ou SE ACONTECEU ENTÃO é a biografia deste autor

umas poucas certezas se tem sobre ele

uma delas é q alguém escreveu um conjunto de obras magníficas

c estilo coincidências diálogos intertextuais estruturas inconfundíveis

e apesar de dar mto trabalho é mto fácil fazer um shakespeare

é só fazer shakespeare sem querer fazer outra coisa além de shakespeare

chegada da floresta de birman . MACBETH . foto: marcio meirelles

ESCOLHAS DECISÕES CAMINHOS

 

a principal escolha para uma encenação de suas peças em outra língua é a tradução

que tradução escolher

seguramente a q mais aproxime seu estilo pulso jogo da nova língua q o lambe

isso é fundamental

todas as suas peças têm em português pelo menos umas quatro traduções

de quatro conjuntos de obras completas traduzidas

depois é escolher o ator ou atriz q tenham em si determinados personagens – os pensamentos em ação – q dão o tom da obra que conduzem o discurso

e compor ao redor deles c os outros atores-atrizes/vozes

a polifonia q vai agarrar a consciência do rei

q p isso é feito teatro

 

fazer shakespeare era a missão do segundo arco/ano

do programa de formação universidade LIVRE de teatro vila velha

no primeiro arco/ano foi traduzir FRANKENSTEIN do romance de mary shelley para a cena

fazer uma tradução

foi o q fizemos

e ao longo desses dois anos montamos dez peças

e apresentamos 13 experimentos = mostras/debates públicos de processos e reflexões sobre teatro e cena e caminhos

e o bardo nos acompanha desde o segundo mês de trabalho

c incursões pelo ritmo fala poética estrutura

 

finalmente a decisão de montar como parte do processo programa trabalho

MACBETH e HAMLET

logo duas das peças icônicas os monumentos sobre os quais há bibliotecas inteiras e nem toda uma vida daria para ler e ver e ouvir tudo produzido em textos imagens e sons sobre cada uma delas

mas escolhemos as duas

nos interessa o limite o quase impossível o extenuante o urgente

nos interessa o abismo o salto inominável o eterno o exorbitante

nos interessa a humanidade e a política e a poesia e o ser humano e o mito

e fomos

kamikazes

num voo de olhos sentidos razão emoção bem abertos escancarados

ao encontro dos dois

os dois falam de golpes de estados geradores de tragédias

nos dois o sobrenatural se interpõe

nos dois há uma mulher q é sacrificada

nos dois há um caminho sem volta para o fim

nos dois como em toda a obra do bardo há uma ordem q foi rompida

e uma nova ordem q precisa ser instaurada

na primeira cena de MACBETH aparecem as irmãs do destino e n dizem pq

na de HAMLET o fantasma do pai

depois tanto umas qto outro voltam e desencadeiam as peças

na segunda cena de MACBETH sabemos a situação política da escócia q vai sediar a tragédia

em HAMLET da dinamarca

hamlet nos diz ser ou n ser onde reflete como a consciência das consequências de um ato nos paralisa macbeth nos diz ficasse feito o feito onde pondera sobre o mesmo assunto

qdo macbeth desiste momentaneamente do plano lady macbeth n o reconhece

qdo hamlet põe em ação o seu plano ofélia n o reconhece

ofélia enlouquece e se afoga lady macbeth enlouquece e morre lavando as mãos

e por aí vamos

toda a obra de shakespeare é carregada de citações e coincidências

personagens q aparecem ou são citados em mais de uma peça

ações e frases e imagens q se repetem ou assemelham ou são variações de um mesmo tema

assim as duas montagens

entre as quais formando uma trilogia inseriu-se JANGO – UMA TRAGEDYA única peça escrita por glauber rocha montada para comemorar os 50 anos do teatro vila velha também uma tragédia gerada por um golpe de estado glaubershakespeareanamente construída

são parte de uma obra em rede q está em construção

 

temos exercitado a ressignificação dos elementos de nossa obra constantemente e em MACBETH/HAMLET+HAMLETMACHINE = A MAQUINA SHAKESPEARE isso tem sido uma tônica incluindo a definição de elenco

yan brito o jango “destronado” é duncan e o fantasma do rei Hamlet

vinicius bustani faz hamlet e malcolm dois filhos de reis assassinados c os tronos usurpados e tb foi júlio souza “órfão” de jango frustrado pela impossibilidade de construção de uma nova ordem

tiago querino faz macbeth q toma o poder através da força e fortembrasse q toma o poder da dinamarca depois da tragédia e foi brizola q incitava jango à luta armada

só para falar nos atores dos papéis título

as músicas de POR QUE HÉCUBA JANGO FRANKENSTEIN foram tb colocadas em cenas das duas peças q tinham a mesma necessidade sonora para existirem plenas

fragmentos de POR QUE HÉCUBA são usados em hamlet na cena em q os atores recitam trechos da guerra de troia

o carrinho de supermercado cheio de aparelhos telefônicos de ESPELHO PARA CEGOS reaparece em HAMLET MÁQUINA depois de já ter aparecido em JANGO c a mesma função

parte do figurino de uma peça aparece na outra como já apareceram em HÉCUBA FRANKENSTEIN TROILUS E CRÉSSIDA

o modelo das saias foi criado em 1990 para um espetáculo de dança sobre a guerra de troia e continuam a falar sobre as guerras contemporâneas até hj com seu movimento e panejamento em diferentes texturas e cores e tecidos

e outras peças de roupa ou conceitos de figurino vão nos lembrando de suas histórias em cena

estamos num teatro q pode mudar de configuração para cada espetáculo e exercitamos c isso a dramaturgia do espaço desde muito tempo mas principalmente e mais recentemente a partir dos experimentos da LIVRE

a cada encontro c o público propomos uma relação física específica e própria

para cada encontro refazemos o espaço do vila p instalar desde o momento da entrada já c o elenco em cena a ação q vai se desenrolar em torno do espectador

estamos em torno do espectador n apenas em frente a ele estamos por todos os lados como no mundo ou ele está em volta da cena como na vida estamos sempre n frontalmente estabelecendo uma relação dual mas simultaneamente atuando em todo o espaço ao mesmo tempo

as imagens dos mortos dos massacres da guerra cotidiana são as mesmas de várias peças e dos noticiários sangrentos de todos os dias na tv q no teatro acompanhando cenas fictícias similares redimensionam nossa passividade diante das tragédias

o piso é da MULHER COMO CAMPO DE BATALHA

as cortinas em tiras nos acompanham desde a re-inauguração do vila c DOM QUIXOTE

os bancos vêm do bando de teatro olodum e são do bando desde a primeira peça q criei para eles ESSA É NOSSA PRAIA e foram incorporadas ao novo projeto político do vila sem deixar de pertencer ao bando

as alfaias e tambores africanos e brasileiros acompanham todas as montagens de tragédias colocando o pulso e o ritmo necessários ao desenrolar da trama

assim cenas antigas se superpõem à q está ante nós criando texturas de memória para quem já viu outros espetáculos nossos e criando nova e indefinível densidade ao olhar estreante em nossa obra

 

ser ou não ser eis aí o ponto . vinicius bustani (hamlet) . foto: marcio meirelles

 

HAMLET

 

hamlet tem 2 edições contemporâneas de shakespeare – o 1o e o 2o quarto – e a do famoso fólio c as obras completas publicado poucos anos depois de sua morte

o 1o quarto q veio a público pouco depois da data suposta de sua estreia – atestado de popularidade da peça qdo lançada – durante muito tempo foi considerado espúrio fruto de pirataria de algum ator q aprendendo todo o texto da peça de cor o recitou p algum editor em troca de algumas moedas faturando assim com o sucesso dos outros o q teria resultado num texto incompleto truncado c nomes de personagens trocados – corambis em vez de polônio gertred em vez de gertrude etc – cenas fora do lugar supressão de algum solilóquio ou fala importante considerando o fólio como o cânone os textos originais

ora então pq o 2o quarto é tão extenso e tb diferente com mais material do que o fólio com tempo de encenação se montado sem cortes de mais ou menos 6 horas qdo todas as peças de shakespeare duram em torno de 2 horas e meia

e pq os editores n consideram o fólio tão original assim q encaixam aqui e ali trechos do 2o quarto pq sentem falta de algumas “explicações” o q torna hamlet uma das peças mais longas de shakespeare e q raramente n sofre cortes em suas encenações

atualmente muitos estudiosos consideram a seguinte hipótese – o autor teria escrito realmente o texto do 2o quarto e levado para a sua companhia e lido c os atores q num processo colaborativo como se pratica até hoje sugeriram cortes e alterações q resultaram na “versão de palco” da obra

o sucesso levou à sua publicação e a subsequente lançamento da “versão do autor” o 2o quarto c o texto na íntegra

depois de algum tempo talvez já em stratford preparando a edição de suas obras completas o bardo retrabalhou a peça levando em conta os 2 textos publicados o q seria talvez sua “versão definitiva”

levando esta hipótese em consideração o único texto q n pode ter sido escrito por shakespeare á a versão q conhecemos

esta é uma versão de editores

a escolha por montar o 1o quarto é pelo gosto de acreditar na hipótese de q ele é a versão de palco da peça como foi montada pela trupe do bardo em seu teatro

é mais ágil teatral mais perto do jogo de suas outras peças deixa mais lacunas em aberto mais brechas para nossa imaginação talvez menos material para reflexões mas o suficiente para manter ou até potencializar o impacto de seu discurso

josé roberto o’shea nos presenteia c uma excelente tradução do 1o quarto num livro chamado O PRIMEIRO HAMLET publicado pela hedra nos falamos e ele autorizou a montagem

no caminho a ideia de fazer uma montagem simultânea de A MÁQUINA HAMLET de heiner muller e a descoberta de q ele introduziu seu texto como a peça dentro da peça em sua montagem

e o vontade de testar tb isso como talvez uma nova leitura do assassinato do rei ou seja da destruição de uma antiga ordem

e o fizemos

e já q alteramos e interferimos e sampleamos alternativas novas como o próprio shakespeare talvez o tenha feito e com certeza o fez pelo menos usando canções conhecidas e alterando-as p encaixa-las em suas tramas e discursos pedimos tb autorização a matéi visniec para samplear fragmentos de POR QUE HÉCUBA e trocar as citações de falas sobre a guerra de troia feitas por hamlet e os atores e q o levam ao solilóquio quem é hécuba para esse ator ou ele para hécuba onde se maldiz por ainda vacilar em executar a vingança demandada pelo fantasma do pai e tem a certeza de q é com o teatro q agarra a consciência do rei

e com certeza uma peça de matéi desperta muitas consciências

então numa interferência autorreferente colocamos imagens e reencenações de fragmentos de nossas próprias montagens

assim como recorremos às imagens de nossa montagem de JANGO para nos lembrar do golpe de 64 qdo o fantasma do rei pede vingança

ainda n resolvemos no brasil o golpe de 64 e a ditadura decorrente dele e como hamlet assistimos impassíveis as tentativas de sua reencenação c pedidos de impeachment para a presidente recém eleita democraticamente dentro do sistema eleitoral q vivemos devido à insatisfação de alguns pelos mesmos programas e tendências tentados por getúlio e jango para tornar a distribuição de renda mais justa e diminuir a miséria e a pobreza ainda q com a mesma falha o n enfrentamento direto ao dragão da maldade – o próprio sistema político econômico do brasil e a mesma oligarquia q o controla – enfrentamento trocado por mtas concessões e negociações c ele

escolhemos tratar hamlet entre as muitas possibilidades como o discurso de uma geração entre duas ordens uma q findou e q n deve ser restaurada pq se degenerou e n é mais útil e uma nova ordem q ainda n se constituiu a geração de hamlet laertes ofélia horácio é a geração do movimento passe livre é a geração q sente algo de podre no reino da dinamarca mas n tem um modelo construído para implantar é a geração de uma revolta difusa muiltifocal sistêmica contra um sistema q n aponta saídas para impasses vitais como o meio ambiente e sua sustentabilidade por exemplo a convivência possível nas grandes cidades a distribuição de renda e capacidade de sobreviver ao caos urbano ou ao isolamento rural onde a terra n é de todos

fortembrasse n é a solução é a consequência da violência é o retorno brutal à barbárie talvez depois da destruição de toda uma geração menos um sobrevivente horácio q por pedido de hamlet sobrevive como memória de um escândalo testemunha de um tempo q n deve se repetir nem como tragédia nem como farsa

pq hamlet sabe q o resto não pode ser o silêncio

 

amanda brito (lady macbeth) . foto: marcio meirelles

 

MACBETH

 

ao contrário de hamlet macbeth só tem uma publicação de sua época a do fólio lançada depois da morte do autor

há muitas dúvidas sobre o q foi escrito por  shakespeare e o q está ali como uma interpolação para a encenação ou seja temos aí uma “versão de palco” provavelmente o texto publicado no fólio é o q foi encenado

há algumas decisões a serem tomadas a primeira a tradução pq tb ao contrário do 1o quarto existem muitas em português

escolhemos a de bárbara heliodora pq aos nossos ouvidos é a q mais se aproxima do pulso original mantendo coerência fidelidade fluidez

tb ao contrário de hamlet as interferências feitas no texto para nossa encenação são muito poucas

em troca dos personagens convidadas pelo porteiro a entrar no castelo na noite em q o rei é morto – levando em conta q os originais eram referências a personagens e acontecimentos reais e q precisariam de notas de rodapé para serem entendidas hj – colocamos referencias a personagens contemporâneos passiveis de serem identificadas pelo público atual sem alterar a estrutura original das falas do porteiro

pequenos cortes e alguma edição aqui e ali para fluir a encenação construída e n mais

nenhuma intervenção nenhum outro texto agregado

o grande trabalho foi lutar contra as convenções criadas ao longo dos tempos nas encenações e montagens q nos mostra uma lady macbeth vilã como na tradição judaico cristã é apresentada a mulher e um macbeth sem afeto q mata pq n ama ao contrario e um macbeth mata mesmo amando pq é inevitável a morte para q o destino se cumpra e n importa o afeto q tenha por duncan ou banquo importa q há um destino a cumprir e a consciência de q todos os feitos têm consequência q o poderiam paralisar no início da peça é removida pela estratégia de responsabilizar a mulher pelo sucesso ou fracasso da empresa e por outras ações e decisões q vai tomando inclusive a de descartar a cumplicidade de seu duplo feminino empurrado p um limbo e p uma ausência durante todo o 4o ato aparecendo apenas para morrer

mostrar q macbeth n é um monstro ao contrário q cada um de nós pode ser macbeth se n tivermos claros e defendidos certos valores se contra um destino trágico e inevitável n lutarmos a favor do equilíbrio

e tirar o sobrenatural do ar a humanidade de macbeth está justamente na humanidade dos outros personagens e em suas motivações esse é o jogo proposto por shakespeare

as irmãs do destino nunca as tratamos como bruxas ou feiticeiras mas mulheres cônscias de sua humanidade e papel no mundo papel de mães q perdem os filhos a cada dia de cidadãs q perdem a capacidade de seguir e decidir que são renegadas a papéis inferiores subjugadas por um mundo patriarcal e por isso montam o teatro das profecias e assim conduzem erraticamente as vezes os acontecimentos

shakespeare n acreditava q as bruxas tinham o poder de realizar mas o de induzir a realização

esse é o perigo nomeado por hécate o excesso de informação n processado corretamente nos leva à perdição

assim hamlet é uma peça doc um registro deste momento e macbeth uma peça aviso cuidado homem como em algumas casas vemos cuidado cão

 

 

O FUTURO

 

o q é montar estas duas obras

o q é fazer teatro

por quem ainda fazer teatro qdo as opções de representação deleite narrativas meios de distribuição de discursos e produções performativas são tantas e falo da capacidade q todos e qualquer um têm disso de produzir seu próprio discurso sem ser representado por  ninguém e colocar no mundo p ser visto ouvido experimentado por milhares de pessoas a um clique

é preciso fazer shakespeare esse teatro tribal c 31 atores e mais os técnicos em cena

ainda q reduzido o público pelo excesso de alternativas pelo medo disseminado pela indústria da segurança para fomentar o mercado da proteção da fortificação e intransponibilidade das propriedades e do armamento do cidadão pela falta de qualidade quantidade conforto opções do sistema de transporte urbano q empurra o cidadão para o mercado automobilístico dificultando o acesso e circulação ainda mais nos grandes centros pela falta de cultura de ir ao teatro pela pouca informação do q seja teatro e dos benefícios q traz ao mundo o seu consumo sistemático em sessões onde a humanidade precisa ser coletiva precisa estar presente em corpo e lugar para q aconteça pela estupidez da distribuição gratuita de ingressos na tentativa de aumentar a frequência ao preço de criar dependências perversas do produtor ao patrocinador e n ao público

ainda q reduzido o público por esses e outros fatores o teatro ainda é necessário

o teatro vila velha começou a produzir diretamente seus espetáculos a partir de 2013 para responder ou se questionar sobre tudo isso

e em dois anos deu à cidade – ou melhor trocou c a cidade por ingressos vendidos – 10 espetáculos 5 deles c elencos de mais de 30 pessoas

isso é possível pq o vila adotou uma política de formação de público mas tb de artistas de uma maneira sistemática e investigativa

o programa universidade LIVRE de teatro vila velha vai se construindo a medida q avança

vai entendendo a realidade e respondendo a questões e formulando perguntas ainda sem respostas vai demandando e fomentando e provendo a sociedade de teatro

a ideia de um artista gestor de seu próprio trabalho é a idéia de um artista q se faz perguntas tb como o operário de brecht o artista q se pergunta diariamente qual o seu lugar no mundo e no tempo em q vive e atua q carrega peso físico e a responsabilidade de convocar uma assembleia para debater as questões de seu tempo q entende de mercado e economia para poder entender as grandes disputas do mundo q se transvestem em ideologia religião etc mas q são econômicas as motivações pq trocamos a disputa territorial a caça pesca e agricultura por negócios status especulação virtual guerras sem regras torneios sem causa a n ser o enriquecimento o acumulo o capital se autofecundando e nos devorando

a responsabilidade de aprender fazendo

seguros de q a plateia está aprendendo assistindo

q todos somos aprendizes e podemos trocar o q descobrimos a cada minuto c o outro numa rede

q nos impede de cair q nos conecta c a humanidade no q ela tem de melhor e no q ela tem de pior

e lidar c os muitos lados desta coisa mundo

potencializando a construção e a demolição necessárias de tudo q proporciona ou impede a felicidade e lutar pelo prazer de ser e estar neste momento preciso em q estamos e somos alguma coisa no universo

fazemos um teatro coral

como os corais nos retroalimentado e ao sistema cênico emocional afetivo imagético simbólico do mundo

como um coro q sabe a necessidade de corifeus e diálogos c o herói mas sabe tb e mais da grandeza de ser coletivo de pertencer a um grupo e de ter a força de muitos ao nosso lado para seguirmos

vamos continuar no teatro vila velha a fazer este teatro q entendemos necessário e formar novos atores e atuadores no mundo

criar conteúdos para alimentar a fome humana de contato e de respostas ao vazio do depois e do antes

fazer o q podemos fazer

seguimos

márcio meirelles

rio . 21.01.2015

 

 

 

 

Publicado em 22/01/2015 | nenhum comentário

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