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ENTREVISTA MATÉI VISNIEC / EDUARDA UZEDA

1- As peças do senhor  têm sido montadas com certa frequência no Brasil. O senhor tem gostado do resultado? Acha que os diretores captam bem suas ideias?

Antes de mais nada, eu gosto da fraternidade cultural. Eu sou um autor que concede os direitos para todos os diretores, a todas as companhias. Eu conheci, nos dias de minha juventude na Romênia, a ditadura e a falta de liberdade, e eu quero que minhas peças sejam mensagens de liberdade. Eu não vi todas as produções de minhas peças no Brasil, mas estou extremamente satisfeito que meus textos despertem esse interesse. Para mim, isso prova que o teatro é uma linguagem universal. Algumas vezes eu vi imagens de encenações de minhas peças. No Rio, São Paulo e Salvador também pude assistir a alguns espetáculos. Cada uma dessas vezes eu fui movido pela energia dos atores e o espírito engajado dos encenadores. Eu acho que o teatro tem uma espécie de vitalidade no Brasil. Em relação aos diretores, eu lhes dou toda a liberdade para montar as minhas peças. Meu teatro é aberto a interpretações infinitas… Este é o poder da arte. Este é o conceito de obra aberta. Encorajo outros artistas (diretores e atores) a encontrar-se livremente nas minhas peças para encontrar os seus problemas e anseios, seus ideais e suas dúvidas…

2- Como começou a sua parceria com o diretor baiano Márcio Meirelles?

Minhas peças são encenadas no Brasil graças ao meu editor, Edson Filho, que descobriu o meu teatro na França e começou a publicar os meus trabalhos em Português. Vinte das minhas peças estão agora disponíveis e circulando no Brasil, e foi assim que eu conheci Marcio Meirelles. Especificamente, Marcio descobriu minhas peças em uma livraria e decidiu começar a monta-las. Esta é talvez a melhor maneira de um encontro com um diretor, com a publicação de um texto… Marcio é como meu irmão gêmeo. Nós temos a mesma cultura teatral, nós gostamos dos mesmos autores, ambos achamos que o teatro tem uma dimensão social, que é uma luta para a beleza, mas também para a verdade. Nós acreditamos que o artista tem uma missão na sociedade. E é por isso que eu encontrei em Marcio um “irmão” cultural… Foi ele quem me convidou pela primeira vez ao Brasil e que me fez descobrir esse país incrível… Já fui duas vezes ao Brasil e vi muitas das minhas peças montadas por Marcio. Foi um verdadeiro prazer. Se você nunca viu um autor feliz, você deve pensar em mim. Eu tive a oportunidade de conhecer nesta vida pessoas apaixonadas como Edson Filho e Marcio Meirelles, que estão muito longe de onde eu moro, mas tão perto de mim culturalmente.

3- Por que o senhor convidou Márcio Meirelles encenar As Palavras de Jó?

Um dia, conversando com Marcio, eu tive essa revelação de que ele poderia desempenhar o papel de Jó como eu concebi em meu monólogo. Eu penso que este texto se encaixa como uma luva para ele, na forma e conteúdo. Eu escrevi originalmente para um marionetista francês, Eric Deniaud, que já trabalhou bastante com meus textos. Mas logo percebi que este texto poderia agradar também a Marcio. Ele tem a natureza deste personagem e, sobretudo, a experiência de luta social e artística… Espero com emoção ver Marcio desempenhando este papel.

4- Que traços distinguem suas obras das de outros dramaturgos?

Difícil dizer. Eu sempre tentei ser… eu. E eu escrevi um monte de peças que não se parecem entre si. Eu não gosto de me repetir, eu gosto de surpreender e surpreender-me. Mas eu sempre mantive minhas peças em uma mesma dimensão poética. Talvez esta mistura de fábula filosófica, poesia e teatro político tenha feito a marca “Visniec”.

5. O que você acha da dramaturgia brasileira?

Agora eu descobri o teatro brasileiro. Eu há muito tempo descobri o cinema (“Central do Brasil”, “Cidade de Deus”), e também a literatura brasileira (Jorge Amado, Paulo Coelho). E eu gostaria de ver mais autores brasileiros encenados na Europa.

6. Que impressão o senhor tem do Teatro Vila Velha?

O Teatro Vila Velha é um grande laboratório artístico, mas também humano. É um lugar que amamos imediatamente, que tem uma alma. Eu me sinto muito em casa neste teatro e eu também admiro a ação pedagógica de Marcio. O espaço é muito especial e incentiva a liberdade artística e a criatividade. Tenho visto poucos lugares como o Teatro Vila Velha no mundo.

ENTREVISTA RESPONDIDA POR IMEIO EM 06/07/2015

Publicado em 10/07/2015 | nenhum comentário

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