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Celeiro de artistas baianos, teatro Vila Velha de Salvador completa 50 anos

MARCIO AQUILES
da folha de são paulo / ilustrada – 27/01/2014

João Alvarez/Folhapress
Cena da peça 'Por que Hécuba', dirigida por Marcio Meirelles durante a mostra Vila Verão no Vila Velha
Cena da peça ‘Por que Hécuba’, dirigida por Marcio Meirelles durante a mostra Vila Verão no Vila Velha

Há um teatro na Bahia onde Caetano, Gil, Bethânia e Gal Costa fizeram o antológico show “Nós, Por Exemplo”, em 1964, no começo de suas carreiras. Onde Othon Bastos despontou com “Eles Não Usam Black-tie”. Onde os Novos Baianos estrearam. Assim como Lázaro Ramos.

O teatro Vila Velha de Salvador, que comemora seus 50 anos em 2014, é a pia batismal dos artistas baianos, segundo o músico Gilberto Gil.

Para celebrar o cinquentenário deste celeiro por onde passaram estrelas do teatro, da música e do cinema, o encenador Márcio Meirelles, diretor artístico da casa, preparou três espetáculos inéditos para a mostra Vila Verão.

Por meio de experimentos cênicos sofisticados, o diretor perpetua a tradição de fazer do Vila Velha um teatro onde novas linguagens são criadas e artistas promissores brotam a todo instante.

O que também atrai o olhar estrangeiro.

“Por Que Hécuba” foi cedida pelo dramaturgo romeno Matéi Visniec, após ele assistir a uma leitura dramática que classificou como lisérgica. Na peça, história, mitologia grega e Carnaval desdobram-se em coros, monólogos e dança.

Com “Troilus e Créssida”, encenada pelo 28º Curso Livre de Teatro da UFBA, Meirelles mostrou seu talento em conduzir jovens a desempenhos notáveis em cena.

“Frankenstein”, que estreia no dia 11/2, fecha o ciclo de encenações originais neste ano.

“Já encenamos ‘Drácula’, personagem que não existe por si, não fala, e que só conhecemos pelo discurso dos outros. O monstro em ‘Frankenstein’, por sua vez, é construído com os pedaços dos excluídos, por isso faremos uma montagem fragmentária que ocupará diversas locações do teatro”, diz Meirelles.

Teatro Vila Velha

Caetano Veloso foi figura presente tanto nos palcos (acima, cantando com o Bando de Teatro Olodum)

Haverá nova temporada de “Cabaré da Rrrrraça”, encenada pelo Bando de Teatro Olodum entre os dias 8/2 e 23/2. O diretor destaca a pedagogia pragmática do Bando, um dos grupos residentes na casa. “Eles foram formados em cena, desenvolvendo processos, aprendendo a tocar instrumentos encenando musicais, Shakespeare.”

Partindo deste conceito de aprender fazendo, Meirelles criou no ano passado a Universidade Livre de Teatro Vila Velha. Com o processo formativo reconhecido pelo Ministério do Trabalho, que permite aos alunos obterem o registro profissional de ator, o projeto tem a multidisciplinaridade como lema.

“É um processo de experimentos, sempre há mostras públicas para exibir o que estamos fazendo, discutimos a liberdade no processo formativo, possuímos uma moeda social que propicia com que todos dividam sua agenda livre entre atividades educativas e trabalho nos espaços do teatro”, diz Meirelles.

O próximo passo será extrapolar o universo artístico e criar cursos de gerenciamento para que a nova geração perpetue a saga. “O Vila Velha sempre foi regido por artistas”, afirma Meirelles.

O COMEÇO DE TUDO

O primeiro espetáculo a ser apresentado no teatro foi Eles Não Usam Black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, em 1964, período em que eclodia a ditadura militar no país. No mesmo ano, o ator Othon Bastos (à esq.) destaca-se no cinema com Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.
A história do Teatro Vila começa em 1959, quando Sônia Robatto e um grupo de alunos da primeira turma da Escola de Teatro da UFBA rompem com o diretor Martim Gonçalves e criam a Sociedade Teatro dos Novos, a primeira companhia profissional da Bahia.

Liderados por João Augusto, encenam peças em colégios e igrejas. Em 1961, o governo cede a título precário um terreno no Passeio Público e inicia-se a construção.

“Erguemos tudo tijolo a tijolo. Houve também contribuição da sociedade e de pintores como Carlos Bastos e Carybé, que leiloaram seus quadros para arrecadar fundos”, conta Sônia Robatto.

Sobre a primeira montagem no local, “Eles Não Usam Black-tie”, a atriz revela o medo em relação à ditadura militar que despontava. “Achávamos que seríamos presos.”

Após a morte de João Augusto em 1979, o teatro tem até uma fase em que são encenadas peças pornográficas. Entre 1994 e 1998, a revitalização promove uma reforma que permite à sala de espetáculos diversas configurações.

“O importante é que no Vila Velha, como diz Bethânia, o teatro tem alma porque foi construído por e para artistas”, diz Robatto. Resta aos jovens talentos prolongar essa tradição.

 publicado na ILUSTRADA / FOLHA DE SÃO PAULO em 27/01/2014

Publicado em 27/01/2014 | nenhum comentário

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